Você já ouviu falar sobre o Julho Turquesa? Em vigor desde 2017 nos Estados Unidos, essa iniciativa chegou ao Brasil no ano passado a partir de uma parceria entre a Associação Brasileira de Portadores de Síndrome do Olho Seco (APOS) e a Tear Film Ocular Surface Society (TFOS).
O objetivo da campanha é conscientizar a população a respeito da Síndrome do Olho Seco, uma doença que não tem nada de incomum e que afeta mais pessoas do que se pode imaginar. Para se ter uma ideia, de acordo com a APOS, estima-se que entre 13% e 24% da população brasileira sofra com o problema.
No entanto, em consequência da pandemia esse número pode crescer ainda mais. Isso porque o novo estilo de vida de boa parte das pessoas ao longo do último ano fez com que uso de computadores, tablets e celulares aumentasse significativamente, sendo esse um dos agravantes para o aparecimento do problema.
No texto de hoje vou falar um pouco mais sobre o que é a Síndrome do Olho Seco, seus principais sintomas e tratamento. Acompanhe!
Sobre a Síndrome do Olho Seco
A Síndrome do Olho Seco, também conhecida como síndrome da disfunção lacrimal, é uma doença
caracterizada pela diminuição da quantidade ou alteração da qualidade das lágrimas produzidas pelas glândulas lacrimais.
Em decorrência dessa disfunção, é comum que a lubrificação dos olhos fique comprometida e o paciente acaba enfrentando alguns incômodos no dia a dia, como ressecamento ocular, ardência e embaçamento da visão.
As principais causas
Ao contrário do que muitas pessoas podem pensar, a lágrima não é simplesmente uma água salgada. Na verdade, ela é uma secreção formada por cerca de 100 componentes, divididos entre muco, água e gordura, considerados essenciais para a limpeza e defesa dos olhos contra microorganismos. Logo, quando piscamos, esses elementos se misturam a fim de evitar uma evaporação rápida, protegendo assim a visão.
Por diversas razões, quem apresenta sintomas da Síndrome do Olho Seco acaba fabricando lágrimas com mais ou menos gordura do que o ideal. Com isso, a evaporação acontece de forma mais acelerada, provocando a secura dos olhos. Sendo assim, é comum que o paciente acorde bem pela manhã, mas sinta os desconfortos causados pelo problema ao longo do dia.
Entre as principais causas que podem levar a ocorrência dessa síndrome estão:
- Uso prolongado de dispositivos eletrônicos: normalmente, piscamos de oito a dez vezes por minuto. Porém, quando estamos em frente a tela do celular, computador e TV, essa número pode cair para cerca de três vezes. Essa redução na frequência de piscadas aumenta a evaporação das lágrimas e deixa os olhos mais secos.
- Idade e sexo: apesar de poder surgir a qualquer momento da vida, a síndorme é predominannte em pessoas acima dos 50 anos. Além disso, as mulheres costumam manifestar mais o problema do que os homens.
- Lentes de contato: principalmente quando usadas de maneira incorreta, as lentes de contato podem prejudicar a lubrificação dos olhos e levar ao aparecimento de sintomas da Síndrome do Olho Seco.
- Ar condicionado: o ar condicionado faz com que a umidade do ambiente fique mais baixa. Com isso, a evaporação das lágrimas acontecem de forma mais rápida, causando desconforto visual.
- Outros fatores: tabagismo, doenças crônicas (como artrite reumatoide, lupus eritematoso sistêmico el síndrome de Sjögren) e uso de medicamentos (como antidepressivos, diuréticos e anti-histamínicos) também podem levar ao desenvolvimento do problema.
Diagnóstico e tratamento
Além de avaliar o histórico do paciente e os sintomas clínicos, o oftalmologista pode chegar ao diagnóstico da Síndrome do Olho Seco por meio de três testes distintos, que são:
- Aplicação de corantes na superfície ocular que mostram as regiões que estão comprometidas devido ao ressecamento;
- Teste de Schirmer, que avalia a quantidade de lágrimas produzidas em um determinado intervalo de tempo;
- Avaliação do tempo de quebra lacrimal, que ajuda a observar por quanto tempo a lágrima permanece intacta no globo ocular.
Quanto ao tratamento, ele irá variar de um paciente para outro. Isso porque, dependendo do objetivo (aumentar a produção espontânea de lágrimas, preservá-las por mais tempo ou fazer a reposição da secreção que não é mais produzida pelas glândulas lacrimais) são indicados medicamentos e procedimentos diferentes.
No entanto, entre as formas mais comuns de tratamento, vale destacar: uso de colírios específicos (conhecido como lágrimas artificiais), utilização de antiinflamatórios tópicos, uso de medicamentos sistêmicos, tratamento com luz pulsada, entre outros.
Conclusão
Como foi possível perceber, a Síndrome do Olho Seco pode ocorrer por diversas razões. No entanto, apesar de parecer inofensiva, ela pode causar muito desconforto e levar à baixa visão se não for tratada adequadamente.
Por isso, é muito importante procurar o oftalmologista assim que os primeiros sintomas aparecerem. Dessa forma, você evita o agravamento do problema e soluciona os incômodos que tanto podem prejudicar a rotina no dia a dia.
Drª Paula Borges Carrijo
Oftalmologista
CRM 53336 | RQE 41855